Escrevi este texto originalmente em 2016 para o Medium (quando ele ainda era legal) e revisei/revisitei-o em 2020 para publicação neste site.
Há algum tempo eu ando querendo escrever esse texto, muito influenciado por algumas conversas recentes com amigos e por alguns pitches de startups que vi há alguns anos quando estava na Startup Farm e ia a quantos Demo Days de aceleradoras coubessem no meu estômago! Pois, não é surpreendente dizer que muitos desses pitches, quase sempre muito belos e bem ensaiados, não deram em absolutamente nada. Não estou falando do cara que lançou a startup e quebrou ou do cara que, depois de testar, viu que aquela ideia não fazia sentido — falhar não é vergonha nenhuma no mundo das startups. Fail fast! A carapuça aqui foi feita pra servir no cara que tá aí, com seu pitch super azeitado, Power Point lindo e maravilhoso, ~business plan~ impecável, se pá até conseguiu alguma notinha na mídia em algum canto (super criteriosos alguns jornalistas), mas produto e tração mesmo têm zero ou quase nada…
Meu ponto aqui é: um monte de gente quer empreender, enxerga uma oportunidade promissora, mas tem pouca intimidade com tecnologia e não entende quase nada de produto. Aliás, aplicativo e startup virou um daqueles assuntos que todo mundo acha que entende um pouco. Tipo técnico de futebol… Esta pessoa, começa a desenhar um "business plan", baseado em sua visão de mundo e não na interação entre produto e usuário. Qual a chance de este business plan acontecer como planejado? Se você quer empreender, largue de teoria e comece logo. Coloque seu produto ou um protótipo na frente do seu cliente. O excel e o Power Point aceitam qualquer coisa. O mundo real não! E pra colocar esse produto na frente do cliente logo, a melhor coisa que você pode fazer é aprender a programar. Pra levantar a discussão, coloquei aqui algumas razões pelas quais penso assim:
1 — Quem coda hoje coda sempre por motivos de bootstrap!!
Pensa na pessoa que está naquele estágio mais inicial da startup, que ainda não sabe se sua ideia faz algum sentido no mundo real, que está aberto a 80 possibilidades de pivotagem e que ainda não fatura o suficiente. Se esse empreendedor souber programar ele não vai depender de grana nem de outras pessoas pra implementar suas ideias, o burn rate dele vai diminuir, ele vai conseguir bootstrapar a empresa dele por mais tempo e seu sono vai ser ótimo naquelas três horas por noite que o empreendedor pode dormir.
2 — Saber programar de traz autonomia
Está achando difícil convencer aquele seu amigo programador que sua ideia é ~A IDEIA que vai mudar o mundo e deixar vocês dois ricos no processo? Neste caso você tem três opções:
- A: Continuar tentando convencer seu amigo programador. Fala sério, not gonna happen, ele tem outros amigos com ideias geniais também. E como diz a máxima empreendedora: não existe mercado para ideias. E, quem iria imaginar, seu amigo programador tem ideias também. O que você está trazendo pra mesa pra ele querer se associar à você? Você tem uma patente? Tem acesso a mercados? Tem algum conhecimento ou algo que possa significar alguma vantagem competitiva? Seu dia tem 32 horas e você se compromete a dedicar todas elas pra fazer o negócio dar certo? Bom, se você não respondeu sim a nenhuma dessas perguntas vai ser um pouco difícil convencer alguém a entrar na ~parceria.
- B: Contratar alguém. Hum, lembre-se de que o desenvolvimento de um produto não termina quando você lança ele, pelo contrário. É exatamente aí que ele começa, por mais que você conheça bem seu público ele nunca irá cansar de te surpreender. No seu contrato, você contemplou esses ajustes ao longo do caminho? E se você decidir pivotar? Vai pagar tudo do zero de novo e jogar fora aquela grana que você já investiu? E se a grana acabar? E se….
- C: Naturalmente, a opção de aprender a programar pra fazer você mesmo não é possível em 100% dos casos. Dependendo da sua ideia o que você precisa é de um time de PhDs e você precisaria de uma década de estudos pra conseguir construir tudo sozinho. Mas felizmente isso não é o que acontece na maioria das vezes. Olhe pras startups de sucesso no Brasil e fora: Uber, AirBnB, Easy Taxi, Instagram, a maioria dos nomes que consigo pensar possuem produtos cujos protótipos ou versões simplificadas poderiam muito bem ter sido construídos por algum dev com menos tempo de estrada. A beleza destes produtos está muito mais na visão de seus fundadores — que souberam enxergar uma oportunidade e executar em cima — do que na complexidade técnica de seus produtos. Pensando assim, faz sentido aprender a programar e ficar totalmente autônomo pra testar ideias como essas.
3 — Conversar com seu CTO/time de devs em pé de igualdade
Tem muito empreendedor que não tem uma noção de produto muito bem desenvolvida. Aprender a programar não é a única coisa necessária pra superar essa carência, mas já é um bom começo. Você vai ter um entendimento mais claro dos recursos necessários pra se desenvolver uma funcionalidade (o quão complexo e quanto tempo leva pra fazer uma parada) e vai ser capaz de entender melhor a palheta de possibilidades que a tecnologia te dá. Além disso, você vai poder ter discussões técnicas com seu CTO sem nunca precisar ouvir “você não ia entender” como resposta.
4 — Botar a mão na massa
Pensa se você pudesse dar uma mão pros seus devs nas tarefas mais básicas poupando o tempo precioso deles e permitindo que eles se dediquem às tarefas mais complexas, tipo criar um produto que vai ~mudar o mundo~. Numa startup early stage os recursos são escassos. Se puder evitar interromper seu dev com as tarefas mundanas, melhor.
5 — Empatia
Aprender a programar vai te fazer entender melhor a cabeça do desenvolvedor. Entender o ponto de vista dele e essa dose extra de empatia vão te ajudar na hora de contratar um dev (ou se associar a um), a comunicar melhor com seu time e a entender as piadas deles no slack.
6 — Respect bro
Pessoas que fazem e botam a mão na massa respeitam mais quem sabe fazer e botar a mão na massa. E fazem piadas com caras como eu que vieram de humanas.