Hoje faz exatamente um ano desde que eu me mudei para São Paulo.
Aproximadamente um ano e meio atrás, eu estava trabalhando como advogada júnior em um pequeno escritório especializado em direito bancário, em Porto Alegre. Com pós-graduação, OAB regular e experiência prévia em estágios, eu recebia um salário equivalente ao de um estagiário, sem carteira assinada ou qualquer tipo de auxílio (transporte ou alimentação).
Insatisfeita com a minha situação e sem vislumbrar possibilidade de crescer ali, decidi não me conformar e ir atrás de algo melhor. Comecei a pesquisar vagas de trainee em grandes empresas ou vagas em bancos (já que eu estava trabalhando com direito bancário). Vi que a grande maioria das vagas eram em São Paulo, então comecei a cogitar a mudança de estado. Seria uma mudança radical para uma pessoa que até então morava com os pais, sem precisar pagar as contas.
Conversei com algumas pessoas e fiz minha pesquisa. Concluí que mesmo o custo de vida em São Paulo sendo maior, o piso salarial me permitira ganhar o suficiente para me sustentar e morar sozinha. Tomei minha decisão: eu juntaria algum dinheiro e no final do ano me mudaria para São Paulo. Ficaria no máximo 3 meses tentando conseguir um emprego, em qualquer área que fosse e se não conseguisse, voltaria para Porto Alegre.
Acabei adiando a ida para fevereiro, para não ficar lá em época de férias (com menos vagas em aberto). Dia 31 de janeiro de 2019 eu cheguei em São Paulo, com apenas uma mala. Fiquei a primeira semana inteira andando pela cidade, conhecendo pessoas e lugares e me habituando. Na segunda semana, eu decidi imprimir currículos e sair andando pela Avenida Paulista com uma pastinha, tentando deixar currículo em algum lugar. Fiz uma pesquisa no Google para saber quais escritórios naquela região atuavam na área que eu pretendia (direito bancário).
No primeiro dia eu andei metade da Paulista. Consegui largar uns 3 currículos só, apesar de ter passado em muitos lugares. No dia seguinte, fui chamada para uma entrevista. Um escritório grande, de atuação nacional, estava com uma vaga em aberto exatamente na área que eu procurava. Fiz a entrevista, uma prova e no mesmo dia já estava contratada.
Fiquei 7 meses e meio lá. Trabalhei muito, conheci pessoas, aprendi coisas novas, adquiri experiência. No último mês, comecei a ter aquele mesmo sentimento do emprego anterior, de não estar avançando, saber que eu não ia crescer e que o que eu fazia não levava a nada (quem já trabalhou com direito bancário sabe a quantidade de processos sem solução que existe por aí).
Tomei, então, mais uma decisão difícil e importante para a minha vida: decidi aprender a programar. Bem nessa época a Le Wagon, escola de programação renomada internacionalmente, abriu vagas para o bootcamp de desenvolvimento fullstack deles numa versão de meio-período com duração de 6 meses, aqui em São Paulo. Decidi que ia fazer o tal curso, mesmo que eu viesse de uma área completamente diferente e nunca tivesse programado na vida. Um novo desafio.
Iniciei os estudos em julho. O curso ensinava a programar em algumas linguagens, sendo Ruby a principal. Em setembro (na metade do curso) eu consegui um emprego como desenvolvedora júnior, porém numa linguagem que eu nunca havia visto: Python. Para quem não é da área, linguagens de programação são como línguas – podem ter algumas similaridades, mas são maneiras diferentes de falar as coisas.
Quando me mandaram o teste para a vaga, eu não sabia nada de Python. Achei que eu não iria conseguir fazer, mas isso não me impediu de tentar. Fui pesquisando e aprendendo o que eu precisava para o desafio e em menos de 6h consegui resolver. Vida de desenvolvedor é assim, sempre aprendendo e descobrindo como resolver problemas.
Alguns meses depois, já com alguma experiência, decidi procurar um lugar onde eu pudesse de fato crescer e aproveitar meu potencial. Olhei muitas vagas no LinkedIn, sempre procurando algo que eu tivesse mais afinidade. Me inscrevi em algumas, recebi algumas rejeições e um teste. O teste a princípio parecia fácil, mas conforme eu fui fazendo, ficou bem complexo. Em 3 dias, depois de testar muitas vezes e até enviar para amigos testarem, enviei de volta o teste feito.
Me chamaram para uma entrevista no dia seguinte. Cheguei na empresa, conversei com algumas pessoas importantes, fiquei impressionada com o porte do lugar e a quantidade de funcionários. Pensei “quero trabalhar aqui, parece muito legal”. Mas é aquilo que dizem: quando a gente precisa que as coisas funcionam, é aí que elas não funcionam. Quando fui demonstrar a minha solução para o teste na entrevista, tudo deu erro, nada funcionava.
Mantive a calma e fiquei tentando resolver de alguma forma. Não tinha jeito de funcionar. O entrevistador me disse “quem sabe tu tenta corrigir o erro em casa e me manda as alterações por e-mail amanhã”. Aceitei a proposta e voltei para casa com uma leve sensação de derrota, mas ainda sem desistir. A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa foi testar o código e – adivinhem – funcionou perfeitamente.
Pesquisei algumas possíveis causas do problema e concluí que poderiam ser fatores externos, como a conexão com a internet ou a versão do Python instalada. Mandei um e-mail para o entrevistador explicando as possíveis causas que eu identifiquei e me colocando à disposição para tentar novamente. Marcaram mais uma entrevista comigo (dessa vez por chamada), onde eu conversei com o entrevistador e mexemos no sistema do computador dele até as configurações estarem ok e o código funcionar. Na semana seguinte, fui contratada.
Em um intervalo de um ano, eu passei de advogada desempregada a engenheira de software (e ainda advogada, apesar de não-atuante), empregada em uma das maiores empresas do Brasil, a Loft. Meu "salário de estagiária" triplicou. Me chamaram para ser teacher assistant (como se fosse uma monitoria) na Le Wagon.
O meu ponto com tudo isso é: arrisquem (com planejamento, é claro), saiam da zona de conforto, busquem a própria felicidade, não vivam no arrependimento de não ter tentado e dado o seu melhor. A vida é feita de desafios, onde nem sempre se tem sucesso, mas sempre se aprende. Espero que a minha história inspire.