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Aprenda a mudar e programe o mundo!
Aprendizados da vida de um coder que queria mudar o mundo
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Aviso: Esse post foi publicado originalmente no Medium.
Eu vou contar pra vocês uma historinha de como aprender a mudar pra programar o mundo. O mundo está mudando rápido mas não necessariamente na boa direção, mas nunca foi tão fácil adquirir as habilidades para ajudá-lo a pivotar.
No final de 1998/começo de 1999 eu era um skatistazinho punk de 17 anos e tinha que escolher um curso de universidade.
Eu queria ajudar a salvar o mundo. Entre várias opções acabei escolhendo estudar Relações Internacionais. Estudei durante 4 anos e meio e trabalhei em algumas ONGs de direitos humanos. Durante esse tempo duas coisas me marcaram:
Quando fui na reunião do conselho de direitos humanos da ONU e vi um monte de velho rico barriga branca discutindo sobre vírgulas e parágrafos num texto regulador e fazendo política durante horas.
E em 2001 quando fui a Índia e logo antes de aterrizar o país foi atingido por um dois mais fatais terremotos que já se viu por lá, matando 20.000 pessoas. Ver o que a combinação miséria + desastre natural pode fazer me deprimiu muito.
Eu acabei me dando conta que realmente não havia muito o que fazer e não tinha idéia como eu poderia efetivamente ajudar. Resolvi deixar a ambição altruísta de lado e ganhar dinheiro fazendo algo divertido.
Passa pra frente 11 anos. Estamos em 2015. Ainda trabalho com fotografia de moda e publicidade, casado com uma moça muito especial e ela está grávida. Mais uma vez, depois de tanto tempo, volto a me perguntar o que será que eu poderia fazer para ajudar a construir um mundo melhor. O mundo continua doente e precisando de cuidado. Eu não tenho mais 17 anos, tenho 34. Começo a ler bastante sobre tudo, revisitar antigos interesses e procurar novos. Escuto falar através de um amigo sobre o Ouishare Fest em Paris, pertinho da minha casa. Consegui um daqueles ingressos gratuitos pro ultimo dia e fui meio sem saber o que ia encontrar.
Eu fiquei super impressionado. Era a edição “Lost in transition”, um pouco depois do boom da “sharing economy”. Achei curioso que três grupos diferentes de pessoas se destacavam — as pessoas normais como a gente, os yuppies capitalistas caçando o próximo uber/airbnb e os hippies querendo salvar o mundo.
E todo mundo estava falando a mesma coisa, todos estavam falando sobre mudar o mundo. A discussão sobre a apropriação da retórica de “mudar o mundo” pela cultura startup fica pra próxima, mas enquanto todo mundo quer mudar o mundo, ninguém quer mudar a si mesmo.
Você já prestou atenção numa criança brincando ? Ela pode passar horas ou até mesmo dias brincando com o mesmo brinquedo, mas eventualmente ela cansa daquele brinquedo e escolhe um outro. Ela troca de brinquedo preferido como trocamos de roupa. As vezes o brinquedo interessa a ela por minutos, as vezes por semanas. As vezes ela volta para um brinquedo que gostava, as vezes não. Por que somos ensinados que com nossas carreiras, trabalho, ou interesses em geral deve ser diferente ? Por que devemos escolher um trabalho e repeti-lo pelo resto da vida ?
Mudar é se livrar de correntes que nós mesmos construímos.
Eu estava super decidido a mudar o mundo, e sabia que para isso eu ia ter que mudar de carreira. Mas qual carreira ? Se olharmos por trás das cortinas de todas as tecnologias que estão mudando o mundo em todas as áreas — finanças, saúde, política, ciência, educação, entretenimento, etc — encontraremos a mesma coisa:
No pun intended #sqn
Código. Se no começo dos anos 2000 era difícil descobrir como colaborar para um mundo melhor, hoje sabe-se que a programação é a ferramenta responsável pela estrutura dos maiores projetos que estão fazendo exatamente isso.
Ok, então fui dar uma olhada em projetos que me interessavam e eles tinham essa cara aqui:
wtf ?
Se tem uma coisa que as pessoas temem mais do que mudança, essa coisa é código. Ok, para mudar o mundo eu precisava de aprender código.
Minha experiência com código se resumia a dois/três tags de html que eu usava em bate-papo do UOL lá em 1999. Na época eu até flertei com a possibilidade de aprender mas aquilo mas não tinha idéia nem por onde começar. Hoje em dia, você tem uma infinidade de recursos online, gratuitos ou não, para aprender. — Codecademy, Treehouse, Udemy, Coursera, Edx, etc — Os melhores programadores que eu conheci são autodidatas. E assim comecei a tentar aprender sozinho.
Mas infelizmente aprender a programar não é fácil como gostaríamos que fosse.
Não é só tomar a pílula vermelha e pra começar a ver a realidade. A curva de aprendizado é muito íngrime, a sensação que tinha era que eu estava tentando subir o everest de skate, sozinho.
minha turma no Le Wagon Paris
E assim descobri a existência dos Bootcamps de programação. Bootcamps são cursos presenciais super intensivos e práticos com duração entre 8 e 12 semanas que ensinam iniciantes a programar. A minha filha ia nascer e eu não tinha tempo para parar 5 anos para fazer uma faculdade de ciências da computação — mas certamente poderia parar alguns meses. E foi assim que descobri o Le Wagon — um Bootcamp de programação de 9 semanas em Paris. Foi o que encontrei de mais próximo da pílula vermelha.
Eu acho que eu nunca trabalhei tão duro na minha vida. Foram dois meses aprendendo fazendo, de nove da manhã até as 19h da noite no bootcamp e até de madrugada em casa. Não é a toa que pega-se emprestado o termo bootcamp do exército. A partir da primeira semana você começa a sonhar com código — e achar isso bom! O esforço mental é absurdo, mas é impressionante descobrir, junto com várias outras pessoas, o tanto de conhecimento que podemos absorver em tão pouco tempo se estamos determinados e se a metodologia é bem construída.
Esse estudo do coursereport sobre os resultados obtidos por bootcamps é super interessante e recomendo a quem se interessar procurar por ele depois. É claro que não são todos que querem mudar o mundo como a gente, alguns só querem um emprego melhor do que o que tem.
Ok, legal. Mas e para aqueles que, como eu, querem ajudar a salvar o mundo ?
Bom, lembram dessa tela aqui ?
Pois é, depois de tomar a pílula vermelha é mais ou menos isso aqui que a gente vê
ahhhh….
Essas é uma pequena seleção de tecnologias promissoras que já estão mudando, e muito, o mundo.
E-democracy
O modelo de democracia representativa esta em crise, basta olhar pra Brexit, Trump ou pro Brasil pra se dar conta disso. E ao mesmo tempo temos em nossas mãos todos os dias algo que pode nos aproximar e muito da democracia direta, o que há alguns anos atrás parecia um sonho que só países como a Suíça tinham acesso. Ouve-se bastante falar das bolhas ideológicas que os algoritmo de recomendação das redes sociais têm criado, então também não bastaria só democracia direta se as opiniões são todas frutos de curadorias algorítmicas realizadas por machine learning.
Astrofísica
Os avanços na astrofísica estão cada vez mais rápidos — estamos olhando e entendendo cada vez mais o universo ao redor da gente. Existem projetos incríveis open source que você pode ajudar mesmo sem ser um astrofísico, tipo o galaxyzoo — um projeto de crowdsourcing onde pode ajudar a classificar e descobrir novas galáxias. Se você tomou a pílula vermelha você pode ajudar com o código por trás do projeto, mas mesmo se tomou a pílula azul pode ajudar através do site.
Realidade virtual e inteligência artificial
Entre esses todos dois me dão medo, e não acho que seja por assistir Black Mirror. Realidade Virtual e Inteligência artificial.
Sem querer entrar muito em teorias conspiratórias malucas, VR ainda é visto pela maior parte do público só como entretenimento e inteligência artificial como uma realidade distante, mas não precisa ser muito esperto para perceber que o potencial das duas tecnologias juntas é assustadoramente poderoso. As analogias a Matrix, que aliás foi lançado em 1999 também, não estão aqui por coincidência. Quem se interessar mais por isso pode ler esse artigo do Nick Bolstrom chamado Simulation Argument. Recentemente ele publicou um livro chamado Superintelligence, que é um pouco um guia sobre os perigos da chegada de inteligência artificial.
Blockchain
E blockchain ? Bom, se você ainda não sabe é o que é, pode-se dizer que é o futuro da internet. Ainda há muito espaço para desenvolver novos apps nessa nova camada e inúmeras oportunidades. Mesmo se quiser só investir, só pra se ter uma idéia, se tivesse comprado 20 mil dólares em ether no ano passado hoje teria 1 milhão de dólares…
E se nada disso der certo e realmente não conseguirmos salvar o mundo que tal garantir um lugar pra família na colonização de marte? Estava pesquisando projetos open source de viagem espacial e trombei sem querer com um teste de seleção de estagiários de engenharia para o spaceX no github. Para a minha total surpresa, eu sabia resolver o problema — depois de menos de um ano sabendo programar! Entenderam o tipo de superpoder que código pode te dar?
E o que eu fiz nesse ultimo ano? Bom, depois que eu terminei o bootcamp eu virei Teacher Assistant do Le Wagon em Paris e em Amsterdam, por que melhor que aprender fazendo só aprender ensinando! Continuo aprendendo muito todos os dias. Estou desenvolvendo um algoritmo de cálculo de risco genético de cancer junto com um oncologista, criei um app que interage com a base de dados do Panama Papers gerando mapas das offshores da Mossak & Fonseca ao redor do mundo.
…tipo esse aqui do rio de janeiro.
Eu não mostro o rosto dela pra não correr o risco que ela seja cadastrada em algoritmo de reconhecimento facial.
Ah, além disso estou criando a minha filha pra liderar a resistência contra a Skynet e a Evil corp.
E trouxe também junto com o Mathieu Le Roux e o Fernando Americano a Le Wagon para o Brasil — então podem se juntar à revolução! Hippies e Yuppies são super bem vindos!
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